Depois de quase 20 dias de reclusão, finalmente saí do casulo domiciliar. Só que, ao invés de uma majestosa borboleta após a metamorfose, eu saí no mais fiel estilo “eu odeio o mundo”: blusa de pijama tamanho extra large, calça leggin surrada, cabelo desgrenhado preso com um elástico de papel.
Para quem me vê sempre agitada, fazendo mil e uma atividades, correndo de bicicleta de um lado para o outro; me encontrar de pijama as 3 da tarde é algo, no mínimo, inesperado.
Minha avó quase caiu da cadeira quando me viu entrar pela porta da cozinha desse jeito.
- Minha filha! Você está um caco! – (viva a sinceridade da terceira idade) – Hoje nós temos que ir ao salão. Você vai fazer mão, pé, cabelo, depilação, massagem... – E começou a listar um monte de tratamentos de beleza.
- Eu não tenho que ir a lugar nenhum além da minha cama.
Era muito cedo para dar um tapa no visual. Eu vi nos filmes que quando uma mulher passa pelo que eu passei, deve ficar semanas de pijama (quem sabe até meses). Faz parte do “protocolo-sua-mãe-morreu”: o mundo cria uma imagem mental de você soterrada em lencinhos de papel usados, devorando caixas de chocolate e assistindo pela milhonésima vez “Um amor para recordar”. O que pensariam de mim se me vissem toda guapetona? No mínimo que eu não estou nem aí pro fato de ter perdido a mãe.
Tentei convencer minha avó a aceitar a minha escolha de não tomar banho pelos próximos três dias, mas foi tudo em vão. É impossível lutar contra a determinação da minha avó, ela passou 73 anos aprimorando a técnica de persuadir os parentes e é mestre nisso.
Lá fui eu arrastada para o Wernner. Na minha cabeça eu imaginava as dondocas do salão me olhando torto enquanto eu andava pelo corredor principal. “O que essa mendiga está fazendo aqui?” – elas diriam. E eu ouviria as peruas cochichando sobre o meu cabelo despenteado e a minha blusa gigante.
Entrei no salão morrendo de vergonha, só esperando os olhares de desaprovação. Mas ninguém me olhou nem disse nada. Estavam todas absortas em seus I-phones, I-pods, blackberries e yogoberries light. “Como assim ninguém está falando mal do meu look? Cadê as dondocas de nariz empinado? Não se fazem mais peruas como antigamente!”
Sentei emburrada na cadeira e esperei ser atendida. Um cabelereiro veio até mim e começou a hidratação capilar. Nunca entendi porque mulher paga uma fortuna para que outra pessoa passe shampoo na sua cabeça. Não é mais fácil a gente mesmo passar? Mas minha avó estava disposta a pagar o que fosse para me ver bem, só cabia a mim (tentar) aproveitar.
Depois de quilos de cremes, condicionadores, loções e outras frescuras, ele começou a massagear minha nuca. Aquilo estava dentro do pacote? A nuca nem é parte da cabeça! “Peraí, agora ele está massageando minhas têmporas. Isso é bom! Isso é muuuito bom! Porque não me contaram que tinha massagem também? Vovó, me traga aqui todo dia!”.
A hidratação acabou e eu já não tinha mais raiva do universo. O mundo é cor de rosa! Viva! Viva! E meu dia de beleza não acabou por aí: também fiz as unhas (rosa-pink, para combinar com o resto do mundo, claro!).
Dica do dia:
Mande os protocolos para o espaço! Quem gosta de você de verdade não vai querer te ver deprimida em casa. E se alguém pensar que você não está sofrendo só porque suas unhas estão feitas, mande essa pessoa ir catar coquinho no asfalto. O luto é necessário sim, mas tem que ser importante para você, não para os outros. Ficar mais recolhida nesses dias é super normal e necessário, mas também temos que saber a hora de sair da fossa. A grande verdade é que a vida continua. Ah! E que “Um amor para recordar” é o filme mais chato ever.
Eu não vi um Amor pra Recordar, não fui pro Wernner e não fiquei nem 1 dia em casa. Além de obrigar 4 amigas a dormirem comigo durante uma semana eu fui pra casa de um cara que tava pegando. Cheguei lá no dia seguinte que tudo tinha acontecido, que meu mundo tinha desabado. Não esperei 20 dias ou a minha avó me pagar uma hidratação. Tava afim de ver ele e ponto. Ele que me aturasse, de cabelo em pé e tudo, e botasse um sorriso no meu rosto. Ele que fizesse as minhas vontades e talvez até um sexo, tava topando tudo, qualquer coisa que deixasse o mundo mais rosa. Fui de cara fechada e a blusa larga. Hoje me parece loucura. Mas foi a melhor escolha que eu podia ter tomado. Ele me fez bem como ninguém, faz até hoje, e tenho dito.
ResponderExcluirMas o que aconteceu com você, me fez lembrar o que aconteceu comigo, e as vezes, volta a doer. Talvez eu precise de chocolate, filme e a minha amiga-vizinha-amada.. Posso?
Oli, querida! É claro que pode! SEMPRE!
ResponderExcluirPor enquanto estou morando no leblon, mas logo logo voltamos para o Jardim Botânico e seremos vizinhas de novo! Aí a gente vê filme, come chocolate pinta a unha e depois sai, que esse negócio de ficar só em casa não é a cara de nenhuma de nós!