segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Mamãe virou pirlimpimpim

Eu e minha mamãe linda na peça Shakuntalá, 1997


Uma vez eu perguntei a minha mãe porque ela não ia ao cemitério visitar seu pai, que morreu quando ela tinha apenas 21 anos. Ela me respondeu que era porque o pai dela não estava lá: lá só havia uma caixa de ossos debaixo da terra. Por isso, quando ela queria homenagear o pai, fazia o que ele mais gostava: ia ao teatro, ao cinema, dançava, lia, ouvia música. Mas eu era muito pequena para entender o significado disso tudo.
Hoje eu a compreendo como nunca. Minha mãe não está lá, naquele bauzinho de cinzas porque ela não cabe num bauzinho de cinzas. Não cabe nessa sala, nesse quarto, muito menos naquele caixão. Minha mãe não é matéria, é um amor enorme que eu nutro em mim, é algo muito grande para ser confinado numa caixa de madeira.
Por isso, quando eu também quero me lembrar dela, eu faço tudo que ela gosta. Há muito mais da minha mãe naqueles atores desconhecidos da peça que eu vi ontem, naquele banho de cachoeira e naquela música que eu tanto ouço do que num pozinho acinzentado com seu DNA. Não vou carregar para cima e para baixo um saquinho de cinzas. Minha mãe é vermelha, laranja, azul, verde, não cinza. Ô corzinha mais chocha esse cinza.

A percepção da morte eminente é um tremendo exercício de desapego. E põe “tremendo” nisso, põe choro, põe desespero, põe indignação. Minha mãe passou por tudo isso e morreu tranquila, consciente de que viveu o que tinha para viver, e o melhor, viveu bem. Por isso hoje eu dou continuidade a esse desafio diário de me desapegar. O que eu preciso dela está em mim, e ninguém pode tirar para usar como suvenir.
Sexta feira eu farei uma bela homenagem a ela: um lindo passeio de barco com seus familiares e amigos. Sairemos do Marina da Glória rumo as Ilhas Cagarras, onde daremos um mergulho refrescante e lançaremos suas cinzas ao mar, feito pirlinpimpim. As cinzas cinzentas vão ficar azul da cor do mar. Azul da liberdade e da paz, do jeito que a minha mãe gosta.

Eu também decidi doar seus figurinos de teatro. Não para me livrar deles, como pensam os apegados, mas sim porque não vejo razão em mantê-los mofando no guarda-roupa. Tenho certeza que a minha mãe preferiria mil vezes de vê-los no corpo de outras atrizes, no palco. Aquela peruca loura dos tempos de quimio também irá parar na cabeça de muitas. E que façam bom uso! E que fiquem lindas como a minha mãe ficou ao usá-las (não tão lindas, porque isso será impossível).
Quem sabe um dia eu não assisto a uma peça na qual a atriz use a tal peruca? Será mera coincidência? Para os incrédulos apegados sim, mas não para Isadora Libório. Minha mãe estará ali -junto com meu avô- na plateia, no palco, nos atores e naquela filha emocionada no assento I-17. Raquel estará em todos os lugares, mesmo que em lugar nenhum, pois ela é um estado de espírito, e quando a tristeza passar e virar só saudade, eu vou subir num palco e dizer: “Hoje eu estou tão Raquel!!”.


Como dar a notícia sem matar o coleguinha de susto

Há alguns dias atrás, encontrei em uma festa um colega de infância. Fizemos aula de teatro juntos com a minha mãe, quando ela dava aulas extracurriculares na nossa escola. Tínhamos, na época, 7/8 anos. Desde então, sempre que nos vemos, ele pergunta com muito carinho como vão meus pais. Dessa vez, a pergunta foi a mesma, mas a resposta... Ah, essa foi beeeeem diferente. Eu conto:

- E aí, como vão seus pais?
Fudeu.
- Éeeee... Meu pai vai bem... Aaaaa... A minha mãe...

O que eu respondo????
a)      Fugiu para as Bahamas com um dançarino de rumba e nunca mais vai voltar.
(Péssima ideia. Ele vai pensar que ela é uma maluca que abandonou os filhos)
b)      Ela bateu as botas.
(E corro o risco de estragar a noite dele e ainda fazê-lo entrar numa bad trip total).
c)       Ela nunca esteve melhor.
(E dou a ele o benefício da dúvida)

Fiquei com a última opção. Não é uma mentira, é? Certo, também não é uma verdade, mas pelo menos eu não teria que passar por nenhuma situação embaraçosa.
- Minha mãe nunca esteve melhor
- Jura? Que bom! O que ela tem feito? Alguma peça de teatro?

Gelo. O que eu respondo (de novo)????
               
- Bem, na verdade ela morreu.
                - Como assim, morreu?
                - Tipo, bateu as botas, sabe? Pá pum. Morreu morrido. Câncer. – Meu Deus, o que eu estou dizendo?? Ele está ficando vermelho! Ele começou a tremer! Olha o que você fez, Isadora! Menina má, má, má!
                - Ai, não! Desculpa! Você está bem? Quer um copo d’água? Gente! Alguém, por favor, trás um copo d’água! Não vodka, Luisa, água! Tá, vodka serve. Bebe isso aqui.
                - Desculpa! Desculpa! Desculpa! Eu pensei que... Sempre a via tão bem... Como que?... Não imaginei que...

Legal, agora ele está super culpado por ter perguntado e eu estou super culpada por ter dito a verdade sem preparar o terreno antes. Mas como preparar o terreno no meio de uma festa? Aliás, como preparar o terreno em qualquer lugar? Dar a notícia é sempre tão... horrível!


Dica do dia:
Sabe aquela piada do gato subiu no telhado? Tá, você não sabe. Nem eu vou contar, sou uma negação para contar piadas (e olha que meu pai é palhaço). A moral da piada (sim, é uma piada com moral! Já deu pra ver que não é de loura nem de português, né?) é que não devemos dar a notícia toda de uma vez pra não matar o coleguinha de infarto (como eu quase fiz). Devemos comer pelas beiradas.
                Jeito errado:
                -Ae, sacoé essas parada ae da vida, pacero. Tá mortão.
                -Xiiiii, ela já morreu faz tempo! Não te avisaram?– a pessoa que estiver recebendo a notícia dessa maneira vai se sentir um zé-ninguém-sem-importância que nem foi avisado do falecimento.
                -Como assim você não foi ao enterro? Nem ligou para a família? – ele vai se sentir culpado por não ter ido à cerimônia nem ter dado apoio aos familiares. Não é culpa dele se não o avisaram a tempo. Para vocês terem ideia, amanhã faz um mês que a minha mãe morreu e ainda tem gente que liga dizendo: “Acabei de saber! Como foi isso? Ela estava doente??”.
                 -Ele (a) está comendo capim pela raíz – ô sem noção! - Como alguém pode falar uma coisa dessas?
                -Ele (a) passou dessa para melhor – chega de eufemismos, por favor. Na era do afrodescendente e do homoafetivo não se pode mais dizer “morreu”?
Não precisa parecer desesperado. Se você for acabar em lágrimas toda vez que der a notícia, os 70% de água do seu corpo vão virar 5. Mas também não seja frio. Opte pelo caminho do meio, como diria Sidarta Gautama.
Não dê a notícia rindo. Ou a pessoa vai achar que é piada ou ela vai te achar um sem noção. E nenhuma dessas alternativas é legal.
Ah! E o mais importante! Se não quiser matar o ouvinte de susto, só diga que a pessoa morreu SE TIVER CERTEZA!

Jeito certo:       
Peça para a pessoa se sentar, se achar necessário.
Tenha em mãos um lencinho, um ombro amigo ou, no meu caso, um copo de vodka.
Esteja (pelo menos pareça) confiante de que vai dar tudo certo. Sabendo que você está bem, ou outros não se sentem tão mal.
Diga que depois que a tristeza vai embora, ficam a saudade e as lembranças boas. E isso é uma verdade incondicional.
Abrace!
                 

               

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

First cut

Ninguém quer morrer, é definitivo demais. Mas também ficar e ver a pessoa que você mais ama partir não parece uma boa opção. Não seria muito mais fácil para quem vai e para quem fica se nós não criássemos vínculos? Se não nos apegássemos às pessoas, objetos, lugares e vivêssemos e morrêssemos sem olhar para trás?

Às vezes eu me perguntava quem é que sofre mais: a mãe que morreu ou os filhos, os pais e marido que continuam vivos. A cada nova conclusão, eu desviava minha piedade a uma pessoa diferente. E, enquanto todos diziam “coitada da Isadora, ela acaba de perder a mãe”, eu pensava: coitado do porteiro, da minha avó, da empregada doméstica, do amigo da fulana. E era assim que eu me esquecia da minha própria dor, ajudando quem parecia pior do que eu.

Esse fim de semana eu viajei com uma grande amiga que também perdeu a mãe recentemente. Há muito de mim nela, e muito dela em mim: mesma paixão pela escrita, mesmo interesse por cinema, mesma vontade de mudar o mundo. Eu me vi nela, como a um espelho, e acho que ela também se viu em mim, nem que seja no fio de cabelo cacheado que eu também tenho.

Domingo tarde seu pai nos levou a uma cachoeira.  No carro ouvíamos “first cut”, de Cat Stevens. Num dado momento, ela desceu para abrir o portão da fazenda e voltou bem no refrão: “baby I'll try to love again”, que seu pai cantava a toda altura. Ele abriu o maior sorrisão quando ela entrou de novo no carro. Aquilo era felicidade plena. Sabe aquele sorriso de pai orgulhoso? Ele já não precisava tentar amar de novo. Tudo que ele mais amava no mundo estava bem ali na sua frente: aquela menina linda, inteligente e determinada que ele mesmo fez.

Foi um daqueles momentos mágicos em que a música que a gente está ouvindo se encaixa perfeitamente, como uma espécie de narração. Lágrimas envergonhadas desceram pelo meu rosto. Era ela ou era eu? Era meu pai quem dirigia?  Estou vendo um filme sobre a minha vida?

E foi então que eu entendi que não existe essa história de “quem sofre mais”. Todo mundo sofre, cada do seu jeito. Ninguém vai substituir o vazio de quem perdeu a mãe, a irmã, a filha ou a mulher. E que bom que é assim. Que bom que não há uma Isadora Genérica que se compra na farmácia para me substituir quando eu morrer. Somos todos autênticos à nossa maneira.

E quer saber? Ainda bem que as pessoas criam laços, têm filhos e formam famílias. Já pensou que insignificante seria a nossa existência se não estabelecêssemos vínculo nenhum? O único jeito da gente se fazer presente depois de partir é na lembrança quem amamos. E é por isso que, em meio a esse caos que é vida, um pai poderá sempre olhar para a filha e ver nela tudo que ele precisa.

Naquela noite, voltei para casa e meu pai me recebeu com um sorrisão orgulhoso no rosto.

Poia 0800

- Vídeo Nacional, Pâmela, boa tarde.
- Boa tarde, Pâmela. Estou ligando para cancelar a conta de Raquel Libório, 768.
- Pois nâum, senhôra Raquel.
- Não, eu não sou a Raquel. Sou a filha dela. Raquel faleceu.
- Lamêinto senhora, mas o cancelamêinto só pode ser feito pelo titular da conta.
- Isso não será mais possível. Ela faleceu.
- Só ela pode estar fazêindo o cancelamêinto.
- Você não está entendendo. Ela não pode “estar fazendo” nada! Ela MORREU!
- Lamêinto senhora. – paf, Pâmela desligou na minha cara.

Onde já se viu? Agora antes de morrer a pessoa tem que se preocupar em cancelar a conta da locadora, o cartão fidelidade no Fellini e o cadastro Cliente-Droga-Raia? Só me faltava essa!

Bem feito, Pâmela, sua poia. Aluguei 3 filmes em nome da minha mãe e NÃO PRETENDO DEVOLVÊ-LOS. Quero só ver para onde ela vai estar mandândo a cobrança.

Algumas coisas na vida, se não fossem cômicas seriam muito, muito trágicas!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Minha prima de seis anos veio me perguntar se era verdade que a minha mãe tinha morrido. Assim, sem nenhum rodeio, nenhum medo de me ofender. Para ela, a morte é só uma palavra qualquer, como pirulito, montanha, nuvem.
- Sim. No Natal, o Papai Noel passou e levou minha mamãe de presente no trenó. Ele estava cansado de dar presente pra todo mundo e nunca receber nenhum. Aí ele viu minha mãe e levou pra ele.
Minha prima ouviu, não muito atenta, balançou a cabeça e disse “tá, agora brinca comigo?”.  
Vida seria tão mais fácil se acreditássemos em Papai Noel e morte fosse só uma palavra que nem sabemos escrever!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Fossa: aprecie com moderação

Depois de quase 20 dias de reclusão, finalmente saí do casulo domiciliar. Só que, ao invés de uma majestosa borboleta após a metamorfose, eu saí no mais fiel estilo “eu odeio o mundo”: blusa de pijama tamanho extra large, calça leggin surrada, cabelo desgrenhado preso com um elástico de papel.
Para quem me vê sempre agitada, fazendo mil e uma atividades, correndo de bicicleta de um lado para o outro; me encontrar de pijama as 3 da tarde é algo, no mínimo, inesperado.
Minha avó quase caiu da cadeira quando me viu entrar pela porta da cozinha desse jeito.
 - Minha filha! Você está um caco! – (viva a sinceridade da terceira idade) – Hoje nós temos que ir ao salão. Você vai fazer mão, pé, cabelo, depilação, massagem... – E começou a listar um monte de tratamentos de beleza.
- Eu não tenho que ir a lugar nenhum além da minha cama.
Era muito cedo para dar um tapa no visual. Eu vi nos filmes que quando uma mulher passa pelo que eu passei, deve ficar semanas de pijama (quem sabe até meses). Faz parte do “protocolo-sua-mãe-morreu”: o mundo cria uma imagem mental de você soterrada em lencinhos de papel usados, devorando caixas de chocolate e assistindo pela milhonésima vez “Um amor para recordar”. O que pensariam de mim se me vissem toda guapetona? No mínimo que eu não estou nem aí pro fato de ter perdido a mãe.
Tentei convencer minha avó a aceitar a minha escolha de não tomar banho pelos próximos três dias, mas foi tudo em vão. É impossível lutar contra a determinação da minha avó, ela passou 73 anos aprimorando a técnica de persuadir os parentes e é mestre nisso.
Lá fui eu arrastada para o Wernner. Na minha cabeça eu imaginava as dondocas do salão me olhando torto enquanto eu andava pelo corredor principal. “O que essa mendiga está fazendo aqui?” – elas diriam. E eu ouviria as peruas cochichando sobre o meu cabelo despenteado e a minha blusa gigante.
Entrei no salão morrendo de vergonha, só esperando os olhares de desaprovação. Mas ninguém me olhou nem disse nada. Estavam todas absortas em seus I-phones, I-pods, blackberries e yogoberries light.  “Como assim ninguém está falando mal do meu look? Cadê as dondocas de nariz empinado? Não se fazem mais peruas como antigamente!”
Sentei emburrada na cadeira e esperei ser atendida. Um cabelereiro veio até mim e começou a hidratação capilar. Nunca entendi porque mulher paga uma fortuna para que outra pessoa passe shampoo na sua cabeça. Não é mais fácil a gente mesmo passar? Mas minha avó estava disposta a pagar o que fosse para me ver bem, só cabia a mim (tentar) aproveitar.
Depois de quilos de cremes, condicionadores, loções e outras frescuras, ele começou a massagear minha nuca. Aquilo estava dentro do pacote? A nuca nem é parte da cabeça! “Peraí, agora ele está massageando minhas têmporas. Isso é bom! Isso é muuuito bom! Porque não me contaram que tinha massagem também? Vovó, me traga aqui todo dia!”.
A hidratação acabou e eu já não tinha mais raiva do universo. O mundo é cor de rosa! Viva! Viva! E meu dia de beleza não acabou por aí: também fiz as unhas (rosa-pink, para combinar com o resto do mundo, claro!).

Dica do dia:
Mande os protocolos para o espaço! Quem gosta de você de verdade não vai querer te ver deprimida em casa. E se alguém pensar que você não está sofrendo só porque suas unhas estão feitas, mande essa pessoa ir catar coquinho no asfalto. O luto é necessário sim, mas tem que ser importante para você, não para os outros. Ficar mais recolhida nesses dias é super normal e necessário, mas também temos que saber a hora de sair da fossa. A grande verdade é que a vida continua. Ah! E que “Um amor para recordar” é o filme mais chato ever.



terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Experiência não se transmite, se vive.

Sabe aquele conselho de mãe que a gente escuta, mas nunca segue? Sempre fazemos tudo ao contrário do recomendado e no final percebemos que ela estava certa? Mãe tem um faro infalível. Quando diz que vai chover, chove; quando diz que vamos ficar resfriados se não colocamos o casaco, nos resfriamos; quando diz que determinado cara não presta, ele não presta mesmo.
Eu já perdi a conta das vezes que eu quebrei a cara por não ter seguido algum conselho materno. Uma vez ela sonhou que eu me envolveria com um cara dez anos mais velho chamado Bruno* e não ia dar certo. Não deu outra. Na semana seguinte eu conheci um rapaz que se encaixava perfeitamente na descrição. A curiosidade quase matou a gata aqui.
Por mais que digamos “isso nunca mais vai se repetir!” ou “a partir de agora eu seguirei todos os conselhos da minha mãe!”, nunca seguimos de fato. E isso não é um problema, é na verdade o início da solução. Caminhar por nós mesmos é o primeiro passo para o desenvolvimento de uma identidade individual. O segredo é saber dosar a nossa gana de experimentar com a voz daqueles que já passaram por isso.  E, claro, aprender com os erros.
Eu não me arrependo de ter mergulhado de cabeça em tantas roubadas, afinal, se a minha mãe sabia que seriam roubadas, era porque ela já havia mergulhado da mesma forma quando tinha a minha idade. Experiência não se aprende, se vive.
E como eu nunca fui mãe, não sei se meus conselhos desse blog serão assim tão certeiros. Mas sabe de uma coisa? Acho isso muito bom. Não quero acertar sempre nem ter que dizer “eu não te disse?”. Tenho apenas 17 anos e ainda pretendo beber, cair e levantar (glamorosíssima) muitas e muitas vezes.
Desejo que você possa se dar ao luxo de fazer tudo ao contrário do que eu sugiro aqui sem cair em roubada. Siga sua intuição, acerte, erre e construa você próprio seu caderninho de dicas de autoajuda.
Ah! E não guarde à sete chaves! Compartilhe com quem também está passando por momentos difíceis, o mundo precisa de atitudes como essa.


*Nome fictício!!! (Achou que eu ia dar esse mole?)

Autoajuda

Nunca entendi o propósito dos livros de autoajuda. Já repararam que esse nome anula finalidade da leitura? Se a ajuda deve vir de nós mesmos, por que precisamos do livro? A minha falta de compreensão do objetivo dessa literatura criou em mim uma barreira que me impede de ler qualquer coisa do gênero.
Acredito na importância da troca e, portanto, toda vez que preciso de auxílio, busco pessoas reais: amigos, parentes, profissionais... Ao conversarmos e compartilharmos pensamentos, ambas as partes do diálogo se beneficiam e crescem em conjunto. É por isso que quando eu consigo superar alguma barreira, não me presenteio com um falso troféu de “autoajuda”. Reconheço que só cheguei aonde cheguei por causa do apoio recebido de fora.
Mas, embora sejam sempre bem vindos os conselhos daqueles que torcem por nós, há determinadas trilhas que devemos traçar sozinhos. Quando minha mãe morreu de câncer, dia 24 de dezembro, percebi que, mesmo que não negasse assistência externa, o maior auxílio para viver esse momento deveria vir de mim mesma.
Cada pessoa tem sua válvula de escape. No meu caso, escrever sempre foi uma deliciosa maneira de pôr meus pensamentos em ordem. Quando minha caneta purpurinada desliza sobre o papel, é como se um novelo todo emaranhado fosse desembolando na minha cabeça; como se a luz do quarto acendesse e eu visse que aquele fantasma não passa da sombra da cortina projetada na parede.
Por isso, desde a véspera do Natal desse ano, eu registro depoimentos pessoais em um caderno só meu. E pela primeira vez a palavra “autoajuda” me pareceu perfeitamente adequada: meu objetivo principal ao escrever isso tudo é me auto ajudar a seguir em frente. Com certeza muito da minha sanidade mental se deve a esse hábito. Em quase um mês de diarista (def. do dicionário Isadora: pessoa escreve diários), aquelas anotações despretensiosas viraram uma pilha gigantesca de histórias, dicas e aprendizados.
A ideia de publica-las já me ocorreu outras vezes, mas como eu acreditava que só era possível solucionar os problemas dos outros depois de eliminar os meus, preferia esperar resolver primeiro as minhas questões, para aí tentar ajudar quem quer que fosse.
Só que nunca chegou o dia do fim total dos meus problemas; quando eu me livro de um, logo aparece outro. Diante dessa “persistência problemática” eu decidi não esperar que uma avalanche de folhas de rascunho caísse sobre a minha cabeça e resolvi unir o útil ao agradável, publicando tudo em um blog.
Aqui exponho desde pensamentos íntimos a acontecimentos corriqueiros, na esperança de poder te ajudar também a viver perto e longe daquela pessoa querida que está com câncer. Não espero que você siga à risca os meus conselhos e sim que, a partir deles, busque sua própria maneira de se auto ajudar a superar momentos difíceis.
Esse blog é seu também, portanto se sinta livre para seguir as dicas que gostar, descartar o que não julgar procedente, fazer comentários, compartilhar com quem quiser e me ajudar na tarefa diária de construí-lo.