segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Como dar a notícia sem matar o coleguinha de susto

Há alguns dias atrás, encontrei em uma festa um colega de infância. Fizemos aula de teatro juntos com a minha mãe, quando ela dava aulas extracurriculares na nossa escola. Tínhamos, na época, 7/8 anos. Desde então, sempre que nos vemos, ele pergunta com muito carinho como vão meus pais. Dessa vez, a pergunta foi a mesma, mas a resposta... Ah, essa foi beeeeem diferente. Eu conto:

- E aí, como vão seus pais?
Fudeu.
- Éeeee... Meu pai vai bem... Aaaaa... A minha mãe...

O que eu respondo????
a)      Fugiu para as Bahamas com um dançarino de rumba e nunca mais vai voltar.
(Péssima ideia. Ele vai pensar que ela é uma maluca que abandonou os filhos)
b)      Ela bateu as botas.
(E corro o risco de estragar a noite dele e ainda fazê-lo entrar numa bad trip total).
c)       Ela nunca esteve melhor.
(E dou a ele o benefício da dúvida)

Fiquei com a última opção. Não é uma mentira, é? Certo, também não é uma verdade, mas pelo menos eu não teria que passar por nenhuma situação embaraçosa.
- Minha mãe nunca esteve melhor
- Jura? Que bom! O que ela tem feito? Alguma peça de teatro?

Gelo. O que eu respondo (de novo)????
               
- Bem, na verdade ela morreu.
                - Como assim, morreu?
                - Tipo, bateu as botas, sabe? Pá pum. Morreu morrido. Câncer. – Meu Deus, o que eu estou dizendo?? Ele está ficando vermelho! Ele começou a tremer! Olha o que você fez, Isadora! Menina má, má, má!
                - Ai, não! Desculpa! Você está bem? Quer um copo d’água? Gente! Alguém, por favor, trás um copo d’água! Não vodka, Luisa, água! Tá, vodka serve. Bebe isso aqui.
                - Desculpa! Desculpa! Desculpa! Eu pensei que... Sempre a via tão bem... Como que?... Não imaginei que...

Legal, agora ele está super culpado por ter perguntado e eu estou super culpada por ter dito a verdade sem preparar o terreno antes. Mas como preparar o terreno no meio de uma festa? Aliás, como preparar o terreno em qualquer lugar? Dar a notícia é sempre tão... horrível!


Dica do dia:
Sabe aquela piada do gato subiu no telhado? Tá, você não sabe. Nem eu vou contar, sou uma negação para contar piadas (e olha que meu pai é palhaço). A moral da piada (sim, é uma piada com moral! Já deu pra ver que não é de loura nem de português, né?) é que não devemos dar a notícia toda de uma vez pra não matar o coleguinha de infarto (como eu quase fiz). Devemos comer pelas beiradas.
                Jeito errado:
                -Ae, sacoé essas parada ae da vida, pacero. Tá mortão.
                -Xiiiii, ela já morreu faz tempo! Não te avisaram?– a pessoa que estiver recebendo a notícia dessa maneira vai se sentir um zé-ninguém-sem-importância que nem foi avisado do falecimento.
                -Como assim você não foi ao enterro? Nem ligou para a família? – ele vai se sentir culpado por não ter ido à cerimônia nem ter dado apoio aos familiares. Não é culpa dele se não o avisaram a tempo. Para vocês terem ideia, amanhã faz um mês que a minha mãe morreu e ainda tem gente que liga dizendo: “Acabei de saber! Como foi isso? Ela estava doente??”.
                 -Ele (a) está comendo capim pela raíz – ô sem noção! - Como alguém pode falar uma coisa dessas?
                -Ele (a) passou dessa para melhor – chega de eufemismos, por favor. Na era do afrodescendente e do homoafetivo não se pode mais dizer “morreu”?
Não precisa parecer desesperado. Se você for acabar em lágrimas toda vez que der a notícia, os 70% de água do seu corpo vão virar 5. Mas também não seja frio. Opte pelo caminho do meio, como diria Sidarta Gautama.
Não dê a notícia rindo. Ou a pessoa vai achar que é piada ou ela vai te achar um sem noção. E nenhuma dessas alternativas é legal.
Ah! E o mais importante! Se não quiser matar o ouvinte de susto, só diga que a pessoa morreu SE TIVER CERTEZA!

Jeito certo:       
Peça para a pessoa se sentar, se achar necessário.
Tenha em mãos um lencinho, um ombro amigo ou, no meu caso, um copo de vodka.
Esteja (pelo menos pareça) confiante de que vai dar tudo certo. Sabendo que você está bem, ou outros não se sentem tão mal.
Diga que depois que a tristeza vai embora, ficam a saudade e as lembranças boas. E isso é uma verdade incondicional.
Abrace!
                 

               

2 comentários:

  1. muito bom, isa!!!
    nesse eu até faço figuração :D

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  2. hahahahaha, figuração nada! Você faz a parte mais importante! Todo o enredo da história se desenvolve a partir da sua participação

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