segunda-feira, 16 de julho de 2012

Geraldina


Sonhei que tinha uma filha de cinco anos. Ela começava a rir sozinha na sala de estar e dizia: a vovó ta fazendo cosquinha!

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Perdoar


16/12/2011 (o texto é antigo, mas eu só tive coragem de postar agora...)

Ontem ao acordar, corri para conferir o ranking da PUC, que havia sido postado de madrugada. Liguei o computador, pluguei os cabos na internet, abri o navegador, digitei o link do site, minha senha e meu número de inscrição. De dedos cruzados, vi uma página com meus dados surgir na tela. Descendo mais um pouco a barra de rolamento, espanto: minha nota vinha ao lado da frase: Primeiro Lugar. Nunca duas palavrinhas ficaram tão bem juntas.
Não consegui conter a alegria. Como assim primeiro lugar? Como não havia ninguém melhor do que eu fazendo a prova? Eu consegui uma bolsa integral na melhor e mais cara faculdade particular do Rio de Janeiro??!! EU CONSEGUI UMA BOLSA INTEGRAL NA MELHOR E MAIS CARA FACULDADE PARTICULAR DO RIO DE JANEIRO!!!
Primeiro impulso (tenho que me acostumar com a palavra “primeiro” na minha vida): Contar para a minha mãe.
Sonho: minha mãe está de pé, colocando a mesa do café da manhã. Ela olha para mim e logo percebe o que me trouxe ali. “Eu sabia que você conseguiria!!”, ela diz, enquanto me dá um abraço apertado. Talvez atraídos pelo cheiro de pão fresquinho, talvez por pressentirem a boa notícia no ar, minha avó e meu irmão juntam-se a nós e todos comemoramos.
Realidade: Chego na sala e minha mãe está deitada no sofá, com cara de dor. Ela mal consegue respirar com sua máquina de oxigênio devido aos tumores que comprimem seus órgãos. Uma tristeza enorme toma conta de mim. Mas no coração onde cabe dor, cabe também alegria. “Não posso menosprezar a minha conquista!” – penso.
-Mãe, adivinha quem tirou 1º lugar para geografia na PUC...– dou um tempo para ela computar a informação... – EU!!!
Ela leva alguns segundos para absorver o que acabara de ouvir, depois abre um sorrisão e seus olhos se enchem de lágrimas. As lágrimas descem em cascata. A cascata vem seguida de um soluço engasgadode quem quase não respira. Ela estava engasgada de verdade!
Minha avó veio correndo. “O QUE HOUVE, MEU DEUS?! O QUE VOCÊ FEZ COM A SUA MÃE?!”
-Nada, vó, eu só avisei que EU TIREI 1º LUGAR NA PUC!– olhei para ela, esperando os parabéns. Mas ao invés de um abraço apertado e congratulações, eu recebi uma baita bronca:
                -Como é que você avisa uma coisa dessas para a sua mãe? Não sabe que ela não pode ter emoções fortes? Olha só como ela está agora! – nós duas a olhamos. Estava vermelha de choro e falta de ar – Calma, minha filha, não se desespere! – e, olhando para mim - Faça alguma coisa! Vá buscar um copo d’água!
                Não era exatamente essa reação que eu esperava...

É certo que eu me sinta feliz pelo meu resultado mesmo com a minha mãe doente? Eu sou insensível? Ah... Não posso chorar o tempo todo. Alguma alegria eu preciso ter! É justo SIM que eu comemore a minha conquista! Afinal, ela reflete uma vida escolar inteira de dedicação e comprometimento. Agora eu não posso querer compartilhar essa boa notícia com a minha mãe, pessoa que sempre me ajudou e apoiou? Negativo. O mérito é dela também.

Minha avó me olhou como quem diz: “você vai ficar aí parada?”

Foi a vez das lágrimas brotarem dos meus olhos e escorrerem pelo meu rosto. Mas se nem a felicidade eu posso compartilhar, quanto mais a tristeza. Achei melhor sair do cômodo antes que percebessem. Fui ao banheiro, liguei o chuveiro e deixei as lágrimas se misturarem ao jato d’água quente.
O banho me animou um pouco, mas não o suficiente para eu esquecer a mágoa do meu coração. Passei a tarde para baixo. Que merda de avó é essa que nem sabe parabenizar a neta? E pior: do que adianta um 1º lugar se eu sou impotente diante do que está acontecendo com a minha mãe?Eu superestimo todo mundo. Minha avó não é a Dona Benta, e sim uma velha insensível e paranoica. E eu sou só uma garota que se acha demais por ter feito vestibular com pessoas mais burras que ela.
Minha mãe está doente e eu quis roubar a atenção para mim. Eu tenho nojo de mim.
Minha mãe está doente e eu quis roubar a atenção para mim. Eu tenho nojo de mim.
Minha mãe está doente e eu quis roubar a atenção para mim. Eu tenho nojo de mim.
Minha mãe está doente e eu quis roubar a atenção para mim. Eu tenho nojo de mim.
Minha mãe está doente e eu quis roubar a atenção para mim. Eu tenho nojo de mim.
Minha mãe está doente e eu quis roubar a atenção para mim. Eu tenho nojo de mim.
Minha mãe está doente e eu quis roubar a atenção para mim. Eu tenho nojo de mim.
Minha mãe está doente e eu quis roubar a atenção para mim. Eu tenho nojo de mim.
Minha mãe está doente e eu quis roubar a atenção para mim. Eu tenho nojo de mim.
Minha mãe está doente e eu quis roubar a atenção para mim. Eu tenho nojo de mim.

Depois do banho, ainda me sentindo culpada, fui para o meu quarto, me deitei e esperei o sono vir, mas o aparelho de oxigênio da minha mãe soava como um helicóptero na sala, espantando qualquer perspectiva de soneca.
Eu tirei 1º lugar na faculdade e não tenho ninguém para comemorar comigo. Estou sozinha no mundo.
De repente, ouço a voz embargada da minha mãe me chamar. Vou até a sala. Recuperada do susto, ela me recebe de braços abertos e diz “estou muito orgulhosa de você”. Foi tão maravilhoso ouvir aquilo que toda a culpa foi embora e eu chorei lágrimas de felicidade, as primeiras em muito tempo. Mamãe me fez ligar para o meu pai, contar a notícia e ainda marcar um jantar de comemoração, ao qual ela não poderia estar presente fisicamente, mas prometeu estar de coração e pensamento.
                Ao jantar foram meu pai, meu irmão, meus padrinhos e a filha deles, uma grande amiga. Minha avó não quis ir, mas essa altura eu nem ligava mais. Comemos e brindamos pela felicidade e saúde, as únicas coisas que importam de verdade. Voltei para casa leve e realizada.

Na manhã seguinte, ouvi minha avó contar, ao telefone, que estava orgulhosa de mim por eu ter ido bem no vestibular. Quem diria! E eu que achei que ela não estava nem aí! Depois de terminar a conversa ela desligou o telefone e passou por mim, sem me olhar nem dizer uma palavra. Não guardei rancor por isso. Foi suficiente saber que ela tinha prestado atenção à notícia do primeiro lugar e que estava feliz por mim.
Nem sempre as pessoas conseguem manifestar seus sentimentos, o que não quer dizer que elas não os sintam. Minha avó é desse tipo, não parabeniza nem deixar transparecer que está orgulhosa, mas no fundo eu sei que ela está,e isso me basta. Estou tranquila.
Mamãe sempre se queixa de nunca ter recebido carinho nem ouvido um “eu te amo” da mãe dela. Eu não sei o que é isso, tenho a mãe mais carinhosa do mundo. Deve ser mesmo muito ruim não ter um colo, um beijo, um abraço para acalentar. Mas, ao mesmo tempo, entendo que a vovó tenha repetido para os filhos a criação que recebeu dos pais (uma dona de casa e um coronel da marinha, ambos filhos de imigrantes portugueses), que também não diziam “eu te amo”, embora amassem. Por isso ela não dá carinho em forma de colo, beijo ou abraço, e sim garantindo que nada material falte em casa.
O amor está nas compras do supermercado, nas horas de sono perdidas, no jeito hipocondríaco de ser, na preocupação com o casaco, o horário, a alimentação. Não fosse seu amor, ela não teria se mudado aqui para casa paradedicar-se a filha. Ela pode estar longe de ser a avó mais carinhosa do mundo, mas isso não significa que ela não ame a gente. Eu sei que ela ama. Eu a amo também.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Estrela (parte 1)


Ânima

Essa noite, sonhei que conversávamos sobre música e você me dizia que adorava a canção “Estrela do Mar”, da Dalva de Oliveira. Dentro do sonho, eu me lembrava da minha mãe cantando essa mesma música numa peça de teatro chamada “Todas as noites de todos os dias”. Então eu abri os braços para mostrar como ela fazia e, de repente, o quarto onde estávamos se transformava em um enorme palco. E, quando me dei conta, já não era eu quem estava em mim: eu era uma nuvem etérea pairando no ar, enquanto meu corpo, no centro do anfiteatro, era animado por outra alma.
Tive medo. Quem me deixou sair?
Meu primeiro impulso ao perceber que estava fora de mim foi tentar recuperar meu corpo. Mas aí a voz que me habitava começou a cantar...
“Um pequenino grão de areia,
Que era um pobre sonhador,
Olhou para o céu viu uma estrela,
Imaginou coisas de amor (...)”
Só então reconheci aquela voz doce, tão familiar. Era minha mãe quem, sob um enorme holofote, cantava em meu corpo, enquanto minha alma a observava, livre da matéria, onipresente. A saudade de ouvir sua voz foi maior do que o medo e a deixei manifestar-se em mim.
“Passaram anos, muitos anos,
Ela no céu ele no mar,
Dizem que nunca o pobrezinho
Pôde com ela encontrar(...)”
Minha mãe sorriu em mim e, de braços abertos como se quisesse abarcar o mundo, voltou a cantar:
“Se houve ou se não houve
Alguma coisa entre eles dois
Ninguém soube até hoje explicar
O que é de verdade é que depois, muito depois,
Apareceu uma estrela no mar”
Ao término da música, como uma névoa perolada, minha mãe saiu de mim, e eu experimentei a estranha sensação de voltar ao corpo. O palco se desfez e eu acordei num sobressalto. Eu suava frio, embora sentisse meu corpo queimar por dentro, e não tinha certeza de estar totalmente de volta a mim.
“Vivi uma experiência extracorpórea! Como isso pôde acontecer?”
Muito assustada e com muito medo de sair de mim de novo e não conseguir mais voltar, permaneci deitada, de olhos bem abertos por minutos que me pareceram a eternidade. Aos poucos fui me acalmando e interpretei aquilo tudo como uma tentativa da minha mãe de me mandar alguma mensagem.
“Morte é transcendência”, eu pensei, “é libertar-se da matéria”. Se cantar, atuar e sentir estão condicionados à forma física, usar o meu corpo foi a maneira que minha mãe encontrou de retornar ao mundo sensível para me ensinar alguma coisa (que só poderia ser dita através da matéria). Mas o que seria?
Tentei raciocinar por um tempo, mas logo fui vencida pelo cansaço e adormeci. Só acordei de manhã, já atrasada para a faculdade. Passei o dia todo com o sonho na cabeça, mas quanto mais tentava entender seu sentido, menos compreendia aquilo tudo. Tentei me convencer de que tinha sido só uma fantasia maluca, mas não acreditei em mim mesma. Só de tarde, quando fui dar uma volta para espairecer, as respostas vieram.
Zanzando de bicicleta a mil por hora, ouvi uma voz me chamar. Freei a bike e vi Eveline, grande amiga e professora de canto da minha mãe.
-Pensei muito em você ontem à noite! – ela disse- Gostaria tanto que você fizesse uma aula de canto comigo, sem compromisso, seria tão bom te ouvir cantar pelo menos uma vez... Sua mãe sempre disse que você tinha uma voz linda... Significaria muito para mim, e sei que para ela também.
E tem gente que acredita em coincidências! Marcamos a aula para o dia seguinte e, adivinhem que música eu escolhi para cantar? “Estrela do Mar”, da Dalva de Oliveira. Eveline, sentada no mesmo piano, tocou as mesmas notas enquanto eu cantava na mesma sala que, anos antes, minha mãe ensaiara aquela mesma canção. Todas as noites de todos os dias...

terça-feira, 17 de abril de 2012

O eterno retorno

Lembro-me do dia em que percebi que meus filhos não teriam avó. Minha mãe ainda não havia morrido, mas sabíamos que era uma questão de tempo.
         Cheguei ao psicólogo forjando um semblante calmo e sustentando uma força que eu não tinha. Eu chorava por dentro. Sabe aquele choro de quem busca a cumplicidade e o acalanto materno, mas (por quê?) não encontra ninguém apara abraçar?
- Minha mãe seria uma avó tão maravilhosa! A melhor de todas: alegre, divertida, amiga. Não é justo que eles não tenham a oportunidade de conhecê-la. – disse; minha fortaleza ruindo como um castelo de cartas.
Sônia pensou um instante e depois me perguntou se eu sentia falta do meu avô, referindo-se ao pai da minha mãe, que morrera seis anos antes de eu nascer.
-Falta não é a palavra certa porque eu nunca o conheci. Eu sinto curiosidade de saber como ele era.
-E como você acha que ele era?
-Minha mãe sempre o descrevia como inteligente, espontâneo e divertido. Ele era um apreciador das artes, adorava cantar e dançar. Estava sempre falando besteira. Era autodidata em italiano e francês, fez faculdade de arquitetura, jornalismo e letras. Estava sempre lendo um livro...
Sônia me ouviu atentamente e pousou o olhar sobre o livro que eu trazia comigo: Demian, de Hermann Hesse; depois observou minha roupa: uma calça legging de quem acabara de voltar da aula de dança. Abriu um sorriso e disse:
-Olhe quantas dessas características estão presentes em você!
Ela deixou que eu maturasse o que acabara de ouvir e, depois de alguns segundos, continuou:
-Há coisas que a ciência não explica, aliás, a maioria das coisas. Eu acredito que há um DNA emocional, que é o responsável por termos a personalidade ou características psicológicas iguais a de parentes que nem chegamos a conhecer. No fundo, nada se perde.
Olhei para o livro ao meu lado e ri como se tudo fizesse sentido.
-Sabia que Hermann Hesse era o escritor favorito do meu avô?
E ela sorriu como se já soubesse.
-De todos os autores que li, Hesse também é o meu favorito. A capa de “Demian” – um pássaro saindo de um rosto de medusa - se insinuou para mim em um velho sebo e decidi levar. Assim, por acaso. Outro dia minha avó o viu sobre minha cama e contou que meu avô o carregava para cima e para baixo, feito bíblia, assim como eu faço hoje.

Foi nesse momento que eu compreendi a grande oportunidade que meus futuros filhos teriam: a de eternizar minha mãe dentro deles, de vivê-la em seu âmago e difundir sua essência sobre a Terra. Eu vi o mais velho (minha mãe já disse que será um menino) lendo Gabriel Garcia Marques sem saber que  seu tio se chama Gabriel em homenagem ao autor, que era o favorito da sua avó. Depois vislumbrei a filha mulher que eu talvez tenha fazendo aulas de teatro, cantando no chuveiro e estampando no rosto aquele sorrisão lindo de quem saboreia a vida com gosto.
Eternizar minha mãe em mim virou também o meu exercício diário: viajei para um mosteiro budista, pesquisei sobre astrologia e filosofia oriental, voltei às aulas de teatro e dança e me aproximei do irmão, Gabriel. 
Hoje, quatro meses depois do dia que mudou tudo, abro as primeiras páginas de Sidarta, também do Hesse. O livro cheira a novo, mas me transporta para fora dos três tempos. Estou junto ao meu avô, que amava minha mãe e Hesse; junto à minha mãe, que amava meu avô e o budismo e junto a mim mesma, como há tempos não me sentia. 
O ciclo se renova. Nada se perde.



terça-feira, 13 de março de 2012

MAIS DE 2000 VISUALIZAÇÕES!

Eu não pude aparecer por aqui esse mês, mas pelo visto fui a única. As visualizações do blog cresceram em PG (por que eu ainda uso esses termos?? Estou na faculdade! Termos técnicos de matemática nunca mais!!), e isso é maravilhoso! A última vez que entrei no blog, o número de visualizações estava em torno de 1700, hoje elas atingiram a marca de 2096, e por isso eu estou muito, mas muito feliz! Caguei se Rebecca Black tem exatas vinte cinco milhões, setecentos e oitenta e sete mil, seiscentas e quinze visualizações no vídeo da sua música Friday. Estou mais que satisfeita com minhas singelas duas mil.
Desde que os primeiros textos foram postados, recebi muitas palavras de apoio, fiz novos e bons amigos e me surpreendi com pessoas que nunca imaginei lendo o blog e que, no entanto, não só leram como comentaram e compartilharam. Vários leitores me adicionaram no facebook e é muito incrível perceber que, embora eles sejam estranhos para mim, eu não sou mais uma estranha para eles. Todos vocês me conhecem como ninguém.
Ah! E as visitas ao blog não param só no Brasil! Tem gente do Reino Unido, da Espanha, Itália, Portugal, Costa Rica e até Hong Kong! É claro que é muito mais provável que sejam visualizações de amigos de amigos meus que estavam passando as férias nesses lugares, mas eu prefiro de pensar que há um chinesinho de olhos puxados que está aprendendo português só para poder ler os posts. Ah, e que há um costarriquenho muito gato dançarino de rumba, heterossexual, desimpedido e que adora ler o blog.
Se quiser me fazer uma visita, pode vir que eu te hospedo na minha casa, viu?

Escrever textos para esse blog tem se revelado um hobbie muito terapêutico, bem mais divertido do que escrever um livro, por exemplo. Um blog não é, ele está sempre sendo. Todos vocês me ajudam a construí-lo a cada dia, a cada mensagem, a cada compartilhamento. Os comentários completam os textos e juntos eles formam uma única mensagem, às vezes de alegria, às vezes de tristeza, mas sempre de esperança.

Obrigada!

VOLTEI!!!!

Depois de 1 mês e 9 dias sem postar, voltei a dar as caras por aqui. Muita coisa aconteceu nesses 38 dias: eu me mudei para uma nova casa com meu irmão e meu pai, viajei nas férias, curti o carnaval no Rio, comecei a cursar duas faculdades, fui abduzida por alienígenas que estudam matemática, virei colaboradora no roteiro de um filme, fui chamada para ser standing numa peça de teatro... Tantas coisas que eu poderia passar um tempão listando.
Durante esse período de mudança (não só espacial, mas mudança de todo um ciclo de vida), estive sem internet, computador, telefone, televisão... Até o meu celular escangalhou. Minha desconexão total me impediu de postar novos textos, mas agora que meu tour pelo paleolítico já acabou e eu voltei ao século XXI, me comprometo escrever sempre que a inspiração vier. Sem mais delongas, vamos aos posts...

sábado, 4 de fevereiro de 2012

As Helenas da vida

Mostrei uma foto da minha mãe a minha fisioterapeuta e ela disse, sem pensar duas vezes: “Nossa, como a sua mãe era linda! Você deve ter puxado seu pai”. Eu comecei a rir, e ela, ao perceber a gafe que cometera, logo tratou de se retratar: “Quero dizer, puxou o tom de pele dele e a cor dos olhos!”.
Não, eu não puxei os olhos azuis da minha mãe, nem a pele clara, nem os cabelos louros. Mas sabe de uma coisa? Isso nem de longe é um problema. Eu herdei coisas muito, mas muito mais importantes do que tudo isso: o senso de humor, a capacidade de se reerguer mesmo quando a vida dá aquela rasteira na gente, a compaixão pelos outros, a determinação para alcançar meus objetivos entre tantas outras qualidades notáveis da minha mãe.
Não, eu não tenho perfil de mocinha indefesa. Uma agulhada no dedo nunca me faria dormir por 100 anos, uma maçã envenenada não me derrubaria e eu não sou do tipo que fica esperando o príncipe encantado me beijar para acabar com meu feitiço. Minha mãe me ensinou a correr atrás dos meus interesses, porque só a gente sabe dar a devida atenção a eles.
Algumas pessoas nascem Hérmias de “Sonho de uma Noite de Verão”, aquela pela qual todos os mocinhos se apaixonam. E outras nascem Helenas, a personagem atrapalhada que sempre se interessa pelo cara errado. Não quero namorar um Ken da Barbie, cheio de gel no cabelo, roupas de couro e o carro do ano.
No teatro da vida, sinto um prazer enorme em interpretar a melhor amiga estabanada da protagonista, aquela que sempre se mete nas maiores roubadas e ri de si mesma junto com a plateia, porque sei que todos os papeis são igualmente importantes, sejam eles protagonistas, coadjuvantes, figurantes, diretores ou contrarregras. Cada um contribui à sua maneira para que o resultado final valha a pena ser vivido.