Dezembro de 2011 foi o caos: mãe terminalmente doente, provas escolares, vestibulares, enfermeiros em casa, vovó materna que decidiu acampar no meu quarto. O cenário não era nos melhores. É impossível se concentrar nos estudos sabendo que, no quarto ao lado, sua mãe chora de dor. É impossível se concentrar na sua mãe que chora de dor sabendo que, no quarto ao lado, milhares de folhas de cadernos precisam ser lidas e memorizadas para ontem.
Eu estava lá, com o corpo tentando me manter em pé numa casa movediça e a mente vagando bem longe dali. Longe do sofrimento da minha mãe, da eletrólise de química e das múltiplas escolhas. Na minha cabeça eu sonhava com um cantinho só meu. Nada muito grande, eu queria um espaço que coubesse eu e mais ninguém.
Sonhar era tudo que eu podia fazer para esquecer o caos. Eu era como aquele menino que contempla a sua pipa lá longe no céu e, nesse momento, esquece que está descalço no chão imundo, esquece do frio, da fome, da solidão e da dor. Só existiam a pipa e ele, eu e meus sonhos.
Quantas vezes eu me culpei por não me dedicar 100% ao colégio, ao vestibular e, principalmente, à minha mãe! Mas hoje eu vejo que foram justamente esses devaneios que me impediram de afundar na areia movediça sob meus pés.
Agora que a minha vida entrou nos eixos de novo, não sonho mais com um canto só meu. Sonho com a casa ampla para a qual me mudarei com meu irmão e meu pai. Nessa casa cabe a minha avó (e eu juro que nem vou mais me importar se ela acampar no meu quarto), cabem todos os meus amigos e cabe a minha mãe também, que continua presente nos móveis que ela comprou, nas roupas que ela escolheu, nos quadros que ela emoldurou e nas lembranças que cultivamos com amor.
Essa pipa que eu empino hoje é muito mais importante do que aquela de quando eu sonhava com um quartinho só pra mim, porque ela voa, mas eu sei que a hora de puxá-la e trazê-la de volta para mim não tardará a chegar.
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